O Encanto do Tempo



No Largo da Freiria, na cidade portuguesa de Coimbra, António Luís Fernandes Quintans cria seu presente sobre o passado alheio. Sua loja, O Encanto da Freiria, vende antiguidades e velharias, como dizem os portugueses.

Luminárias, quadros, estatuetas, tabuleiros de xadrez, câmeras fotográficas, louças, discos de vinil, gramofones, clássicos relógios de parede, panelas de cobre, móveis, dinheiro de outras épocas, livros, botões de roupa. São velharias renovadas pela imaginação de um novo tempo.
O nome do antiquário não poderia deixar de trazer a palavra ENCANTO, um substantivo apropriado para quem ainda conserva, em meio a tanta parafernália tecnológica, a magia de outras épocas, a beleza do clássico, o resgate da memória.  
Dentre centenas de objetos pode-se intuir que muitos pertenceram, além de um determinado tempo, a alguma alma de bom gosto, a uma família aristocrática e, é claro, a pessoas que atribuiram valor sentimental àquilo que o dinheiro ignora. As peças carregam em seus contornos, em sua substância, uma história que lateja silenciosamente sob nossos olhos, ainda mais quando dividem espaço com o Novo, tornando-se ainda mais imponente.

A loja de  Luís Fernandes, assim como todos os antiquários do mundo, contrapõe o velho e o novo, revelando com beleza a ironia do tempo. Os objetos que nasceram com as últimas gerações dificilmente nos levam a certos estados de espírito como os artefatos antigos, no entanto, eles existem para que sejam testemunhas de nossas vivências, para carregarem hoje a poesia iminente do amanhã, que também passará.

"Enquanto estão na nossa posse poderemos dispor deles mas nunca do seu 'espírito' intemporal. Por outras palavras, perante a sua grandiosidade, nós humanos, somos meros passageiros. Nós desapareceremos e os bens, cumprindo a sua missão altruísta e cultural, passarão de mão em mão e para quem os souber estimar" - nos lembra, Luís.
Ontem, hoje, amanhã são essências de um mesmo deus, o tempo. São inúmeras as formas que nos integram a ele, diversas as reflexões que ele nos suscita, como demonstra Luis Fernandes em sua entrevista, assim como as letras dos cronistas de Velharias, Pedro Sá, Catarina Gomes, Juracy Marques, Maisa Antunes, Helio Freitas, Silvina Antunes, José António Franco e a interpretação do fotógrafo Marcos Cesário sobre o Encanto da Freiria e o vídeo Os Nomes



Emiliana Carvalho